Gregório de Matos - A huma dama que estava sangrada-

1. Estava Clóris sangrada,
e Fábio, que a visitava
com ver, que sangrada estava
lhe deu logo outra picada:
ela tão aliviada
ficou, que se ergueu da cama,
dizendo, bem haja a Dama
de Adônis, cuja virtude,
quando me pica em saúde,
eu me sangro, ele derrama.

2. Como na vida acertou,
onde habita a saudade,
extinta a má qualidade,
a enfermidade acabou:
nunca Galeno alcançou
nas sangrias, que me aplica,
quanto o ferro prejudica,
e eu curada com dieta
já sei, que pica a lanceta,
e somente sangra a pica.

3. Fábio me curou do mal,
que na cama lhe informei,
não com xarope de rei,
mas com régio cordial:
se se curar cada qual
somente com seu galante,
há de sarar num instante,
pois quando eu caio doentinha,
não hei mister mais meizinha,
que a meu Mano se levante.

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